A pedalada convencional na parte baixa do Parque Nacional do Itatiaia tem seu ponto mais alto a 1100 metros de altitude, no estacionamento do Complexo do Maromba. O que pouca gente sabe é que este local marca também o início de uma trilha que pode levar o ciclista a um ponto ainda mais alto, a mais de 1800 metros de altitude! Estamos falando do caminho até o Abrigo Água Branca, que fica a aproximadamente 12,5km morro acima a partir do Maromba. Esse trajeto corresponde a cerca de metade do percurso da chamada Travessia Rui Braga, que liga a parte baixa à parte alta do parque. Ficou interessado? Então leia este roteiro até o final para saber como se preparar para esse percurso que é sem dúvida um dos mais desafiadores e bonitos da região!
Nossa aventura começa em uma cancela bem ao lado dos banheiros do Complexo do Maromba, se você ainda não conhece muito bem o Parque Nacional do Itatiaia ou não sabe ao certo como chegar a esse local onde a trilha se inicia, recomendamos que leia primeiro o nosso roteiro que conta todos os detalhes da pedalada convencional da parte baixa do parque, clicando aqui.
Inclusive, bem ao lado da porteira que dá acesso à trilha existe uma bica d'água que você pode usar para se abastecer antes de começar a subir, não esqueça!
Assim que você passar pela cancela já terá que encarar o início da subida praticamente ininterrupta que perdura por todo o percurso. Nos primeiros quilômetros você irá percorrer um caminho por onde costumam passar veículos 4x4 da administração do parque e de guias credenciados e que portanto é mais largo e permite pedalar lado a lado com o colega, mas de todo modo, recomendamos que permaneça sempre à direita, pois nunca se sabe quando haverá algum ciclista já fazendo o caminho de volta. Não ande na "contra mão".
O primeiro ponto de atenção é uma bifurcação que fica a apenas 1,5km do início da trilha. O caminho à esquerda nessa bifurcação leva até o Chalé Alpino, uma residência que foi construída para ser uma pousada mas que atualmente encontra-se inativada. Para conhecer é necessário estar acompanhado de um condutor oficial do parque, ou seja, tem que ser uma visita programada.
Sem a chave você não conseguirá passar pelo portão e se aproximar do chalé, portanto, não perca seu tempo e esforço tentando ir até lá sem isso. Converse com os funcionários do parque a respeito de sua intenção de conhecer o local, se for o caso, e eles irão te informar se é possível ou não e como proceder. Mas supondo que você tenha autorização... o caminho até o chalé a partir da bifurcação é curto, porém bastante cansativo devido à uma subida incrivelmente íngreme nos últimos 100 metros antes da entrada da construção. O interior não pode ser visitado, mas a vista que se tem a partir da sacada, que serve de mirante, é de tirar o fôlego! Confira as fotos abaixo:
Mas voltando a falar da trilha principal em direção ao abrigo... mantendo-se à direita na bifurcação, a subida continua seguindo sempre o mesmo padrão: trechos em linha reta seguidos por curvas muito acentuadas e ainda mais íngremes, um verdadeiro "zigue e zague" morro acima. Algumas dessas curvas além da inclinação elevada possuem também obstáculos como raízes e/ou pedras, uma combinação que pode fazer com que o ciclista não consiga vencê-las sem botar o pé no chão. Aqui vale destacar uma dica muito importante: preste bastante atenção em todos os detalhes durante a subida, tendo em mente que você terá que percorrer o mesmo caminho no sentido inverso na volta. Ou seja, se determinado obstáculo dificultou sua subida, ele irá se tornar um desafio perigoso quando você estiver descendo, portanto, guarde na memória aquilo que você sentir que pode vir a ser um problema ao descer, para não ser pego desprevenido depois.
Outro fator que requer concentração total do ciclista, especialmente durante a descida são os pontos sujeitos a erosão, onde o barranco pode estar a menos de um metro de onde a roda da bike está passando. A maioria desses pontos está bem sinalizada, mas como se trata de um terreno bastante instável, novos deslizamentos podem ter ocorrido desde sua última visita, então esteja sempre preparado e atento para não sofrer sérios acidentes.
Depois de pedalar por alguns quilômetros você irá avisar uma grande pedra à sua esquerda, que marca o ponto a partir do qual a trilha passa a ser mais estreita e técnica, afinal, a partir desse ponto não trafegam veículos grandes. A mata se torna mais fechada e as subidas ainda mais desafiadoras, mas nada que os mais experientes não consigam superar. Inclusive, a segunda metade do caminho pode ser considerada um circuito da modalidade Single Track de Mountain Bike. Lembrem-se que esse não é nem de longe um pedal para iniciantes!
Uma das coisas mais legais dessa trilha são os momentos em que é possível ver por entre as árvores vistas incríveis lá de baixo, é quando você se dá conta do quanto já subiu por suas próprias forças! Portanto, vá com calma, aproveite a paisagem e lembre-se de olhar para os lados as vezes para não perder nenhum detalhe.
Ao longo do caminho você irá passar por 3 pontes de madeira, a primeira delas é larga e não representa qualquer empecilho, ela é um importante ponto de referência pois logo após a mesma você irá avistar uma pequena queda d'água que além de poder ser usada para recarregar sua caramanhola, também esconde um segredo oculto por entre as árvores, a Gruta das Andorinhas. Você irá ouvir o barulho de uma cachoeira mas não conseguirá vê-la da trilha, isso porque ela encontra-se escondida na mata e atrás de grandes pedras. Não recomendamos que você tente se aproximar descalço ou com as sapatilhas que usa para pedalar, pois as pedras são MUITO escorregadias. Deixe para fazer isso em uma outra oportunidade quando estiver fazendo essa trilha a pé, com calçado apropriado e após confirmar com os funcionários do parque que o acesso à gruta está de fato liberado.
Uma outra dica de segurança que precisamos fazer em relação a essa trilha é: NUNCA VÁ SOZINHO. Isso porque além do risco de você se acidentar e ninguém ficar sabendo por um bom tempo, existe também o risco que os animais selvagens representam. Como vocês sabem, nossa região é lar de várias espécies de animais peçonhentos e apesar de ser extremamente improvável, há também a remota possibilidade de você encontrar grandes felinos pelo caminho, como a Onça Parda. A foto abaixo mostra a marca que um deles deixou em uma das árvores ao lado da trilha!
A terceira e maior das pontes é também um ponto de referência importante por ser o último local onde se pode obter água durante a subida, por esse motivo esse é também um bom lugar para descer um pouco da bike, ingerir algum alimento e recuperar as energias para o trecho mais difícil que ainda te aguardará adiante.
Pouco depois de passar pela última ponte de madeira, você irá fazer uma subida bastante íngreme que te levará até uma bifurcação. Nela, seguindo à direita por cerca de 500 metros você irá chegar ao Abrigo Macieiras, que atualmente encontra-se desativado, mas que ainda rende ótimas fotos, além de ser um local de importância histórica no parque. Próximo a esse abrigo você irá ver uma outra bifurcação, onde o caminho à esquerda te levaria até o Abrigo Rebouças, na parte alta do parque. Trata-se da outra metade do percurso correspondente à Travessia Rui Braga. Contudo, como as placas no local indicam, dali em diante não é permitido o trânsito de bicicletas, portanto, após conhecer o Abrigo Macieiras, dê meia volta e retorne para a trilha principal.
De volta na trilha principal, a saga das subidas íngremes continua até que você vai percebendo que a altura das árvores ao seu redor está diminuindo e que o sol se faz cada vez mais presente. Isso acontece porque nesse ponto você está atingindo a altitude máxima da trilha, cerca de 1830 metros, onde a vegetação típica da Mata Atlântica, predominante na parte baixa do parque vai perdendo espaço para a vegetação de altitude da parte alta, devido à diferença na taxa concentração de oxigênio.
É então que você se depara com uma grande clareira no caminho, trata-se do local utilizado para pouso de helicópteros que trazem equipamentos ou equipes para eventuais operações de salvamento, manutenção, pesquisa ou fiscalização. A partir desse local é possível avistar ao longe a formação rochosa chamada de Prateleiras, que fica no Planalto do Itatiaia, na parte alta do parque. Aproveite para contemplar essa beleza geológica de um ângulo que poucos tem o privilégio de ver.
Logo após o heliponto você irá fazer uma descida longa, bastante inclinada e agradável, mas que será seu pior pesadelo no caminho de volta, como pode imaginar, pois a essa altura do passeio você já estará absolutamente exausto. Ao final dessa descida você avistará seu objetivo final, o Abrigo Água Branca. Ao chegar lá você irá se perguntar "ué, cadê a vista que eu vi nas fotos dos meus colegas que vieram aqui?", calma, a incrível vista é obtida ao subir na laje de concreto do abrigo, você pode fazer isso por meio de uma das duas escadas localizadas nas laterais do mesmo.
"Ta, mas e as bikes? Eu vi fotos da galera com elas lá em cima!", você estará se perguntando. Bom, isso já requer um pouco mais de esforço. Se quiser tirar fotos com elas lá em cima, alguém terá que subir na varanda que se vê na foto acima e outra pessoa terá que suspender as bikes para ela pegar e puxar, é o único jeito, mas vale a pena! Uma vez com as bikes lá em cima , recomendamos não tentar equilibrá-las com o pedal nas pontas de colunas nas laterais da laje, para não acontecer com você o que aconteceu com o nosso amigo que teve o azar de ver a bicicleta despencar lá de cima após perder a estabilidade. É claro que na hora todos rimos muito, mas por dentro foi de desespero, pensando em como faríamos para voltar todo o caminho se uma das bikes não estivesse em condições de uso. Para a nossa sorte, na ocasião apenas o banco foi danificado, portanto, não arrisque.
Lá de cima a visão que se tem é indescritível! É possível ver parte do lago formado pela Represa do Funil, em Itatiaia, assim como Resende e uma boa parte da Serra da Mantiqueira se estendendo até Lavrinhas (SP). Confira as fotos abaixo:
No seu caminho de volta, como já dissemos, tome muito cuidado, mas muito cuidado mesmo com o excesso de confiança nas descidas, pois a mata pode estar escondendo pedras e valas que podem te fazer perder o equilíbrio. Outro motivo para você segurar a velocidade é que no caminho podem haver pedestres e outros ciclistas subindo e você precisa ter tempo de reação para desviar ou até parar por conta deles se for o caso, portanto, resista a tentação de praticar um clássico Down Hill, para a sua própria segurança e a segurança dos demais visitantes da trilha.
Dica: Para encerrar, gostaríamos de deixar um último conselho, dessa vez em relação a como chegar até o local do início da trilha. Por se tratar de um percurso bastante cansativo e desafiador, recomendamos que você leve a bike de carro até o ponto onde ele se inicia, o estacionamento do Complexo do Maromba. Contudo, se o seu suporte é daqueles onde a bicicleta vai em cima do carro, então é melhor estacionar no Centro de Visitantes e encarar os 3,5km de subida adicionais até o Maromba, isso porque esse trecho até lá é muito acidentado e vai sacudir bastante a bike, o que pode fazer o suporte não aguentar a pressão.
E aí, o que achou? Já sabia que era possível ir ainda mais longe na parte baixa do parque? Já fez esse percurso? Sabe de alguma curiosidade a respeito que nós não mencionamos? Nos conte nos comentários!
Ficha técnica
Tipo de bike recomendada: MTB
Estrada de terra: 0km
Trilha de bike: 12,5km Possui cachoeira: acessível não.
Ganho de elevação: 815m
Nível: AVANÇADO Atrações: Abrigo Macieiras, Abrigo Água Branca
Mapa oficial georeferenciado para ser usado em aplicativos como o Avenza Maps: https://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/images/stories/2021/Mapas_PNI/20211110_Parque_Nacional_do_Itatiaia_Parte_Baixa_A2_300.pdf
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